O Poder e a História por trás dos Muros do Vaticano. “Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Estas poucas palavras de Jesus Cristo, narradas em Mateus 16:18, constituem o principal fundamento sobre o qual está erguida a mais antiga, poderosa e influente instituição humana.

E enquanto o mundo muda e a fé evolui, ela permanece, e o que começou com um apóstolo, hoje se tornou 1.2 bilhões de seguidores sob uma mesma igreja, a Igreja Católica Apostólica Romana, um farol de fé, moral e orientação espiritual em uma sociedade em constante transformação.

À medida que você se aproxima da sede mundial do catolicismo, vindo pela Via Germanico, em direção a entrada do Museu Vaticano, a cúpula da Basílica de São Pedro, projetada pelo gênio criativo de Michelangelo, se revela no céu romano, como a jóia da coroa de um local onde tudo é construído de maneira imponente, emergindo aos poucos sobre os muros da Cidade Estado.

Em Roma, todos os olhos que se demoram no horizonte vão, cedo ou tarde, cruzar com a cúpula da Basílica de São Pedro, a mais alta cúpula cristã do mundo. 

E com a vista desse cartão de visita, enquanto nos preparamos para entrar nos conglomerados que compõem os Museus Vaticanos, que abrigam extensas e valiosas coleções de arte e antiguidades adquiridas ao longo dos séculos pelos diversos pontífices romanos, nossa guia, Ilaria, nos explica que em alguns instantes estaremos deixando Roma e entrando em outro país: a Cidade do Vaticano, um Estado soberano e independente, com aproximadamente 44 hectares, e a menor entidade territorial do mundo, governada por um único homem: o papa.

Apesar da religião católica já existir há cerca de 2 mil anos, a Cidade Estado do Vaticano só foi criada oficialmente, na condição de um Estado independente e soberano em 1929, quando o então papa Pio XI e o ditador Benito Mussolini assinaram o “Tratado de Latrão”, pondo um fim definitivo na chamada “Questão Romana”, uma disputa territorial ocorrida entre o governo italiano e o papado durante os anos de 1861 a 1929, resultando na perda de territórios pela Igreja Católica.

Em 7 de junho, ao meio dia, nasceu então o novo Estado da Cidade do Vaticano, do qual o papa era um governante absoluto na condição de líder religioso e Chefe de Estado.

Desde a Idade Média o papado foi acumulando um significativo acervo de obras de arte, algumas remontando ao Império Romano, que eram mantidas no Patriarcado de Latrão, a antiga residência papal.

Os Museus do Vaticano, porém, só nasceram em 1503, quando o papa Júlio II transferiu sua coleção para o Cortile del Belvedere, conhecido também como Palácio dos Museus Vaticanos, hoje um vasto complexo de edifícios localizado ao norte da Basílica de São Pedro e do Palácio Apostólico.

O Poder e a História por trás dos Muros do Vaticano

O Poder e a História por trás dos Muros do Vaticano

E ao passo que você vai adentrando as diversas salas e galerias que compõem a extensa coleção de obras de arte e relíquias da Igreja Católica, com mais de 70 mil objetos expostos em uma área de 42 mil metros, a própria história do mundo vai se revelando diante dos seus olhos. As Salas de Raffaello, a Galeria dos Mapas, das Tapeçarias e dos Candelabros constituem uma rota obrigatória através de 20 séculos de história, um caminho deslumbrante e emocionante que deve ser percorrido por quem deseja visitar, talvez, uma das mais belas construções feitas por mãos humanas: a Capela Sistina.

Fruto da restauração da antiga Capela Magna, entre os anos de 1477 e 1480, no pontificado de Sisto IV – daí o seu nome Sistina – o edifício abriga um conjunto de afrescos pintados por Michelangelo, tanto no teto como na parede do altar, além de outros grandes mestres, como Perugino, Botticelli e Pinturicchio, nas paredes laterais, representando diversas cenas bíblicas.

Inspirada no Templo de Salomão do Antigo Testamento, são as obras de arte eternizadas pelo artista florentino que mais chamam atenção: o teto e o Juízo Final.

A grandiosidade da personalidade do mestre se revelam aqui, em suas pinturas tridimensionais que aclamam o triunfo da espiritualidade, com toda sua potência, devido sobretudo à concepção e a força de realização que impôs às obras.

Altar da religião e da arte, uma vez dentro da Sistina – que desde 1513 abriga o Conclave, um ritual sagrado praticamente inalterado há oito séculos dedicado à escolher o novo líder da Igreja Católica – não se pode mais retroceder.

O único caminho possível é em frente, em direção ao maior e mais importante templo do catolicismo no mundo: a Basílica de São Pedro.

Encomendada pelo papa Júlio II, em 1506, e concluída em 1602 por Paulo V, o edifício de proporções gigantescas dedicado à São Pedro foi erguido sobre as ruínas da antiga basílica, construída ainda no século IV por Constantino, precisamente onde antes existia, ironicamente, o Circo de Nero, um matadouro de cristãos e lugar onde São Pedro teria sido crucificado e enterrado.

O Poder e a História por trás dos Muros do Vaticano

Durante a feroz perseguição ordenada por Nero, Pedro acabou sendo preso junto com milhares de outros cristãos e morreu crucificado, por volta de 64 d.C. na colina do Vaticano, onde hoje ergue-se a imponente Basílica, com sua fachada em mármore branco, construída exatamente sobre o túmulo do seu primeiro pontífice, Pedro, “a rocha”. Uma interpretação literal da frase de Jesus em Mateus 16:18: a pedra sobre a qual a sua igreja será edificada.

O pórtico que dá para o interior da Basílica tem cinco portas de acesso, cada uma delas com uma história diferente, como nos conta a nossa guia, Ilaria. A mais conhecida é a sagrada “Porta Santa”, aberta apenas nos anos de Jubileu, enquanto a Porta de Filarete, com mais de sete metros de altura, é uma das poucas maravilhas que permaneceram da basílica medieval.

Ao atravessar a porta de entrada, a emoção é palpável, e a magnitude e o esplendor da grandiosa construção são de tirar o fôlego. A imensidão dos espaços é tamanha a ponto de perdermos o senso das proporções, uma miragem que se manifesta em todas as obras de arte espalhadas pela basílica.

Do monumental baldaquino de São Pedro, construído por Bernini, à Pietà de Michelangelo, obra que surpreende por sua técnica e emoção, passando pelo monumento fúnebre do papa Alessandro VII, um espetáculo tanto pela excelência da sua construção quanto pelo significado que ela exprime, mostrando quanto é efêmero o tempo da existência humana, tudo dentro da Basílica de São Pedro é feito como se para lembrar que estamos dentro da maior igreja do cristianismo.

Fruto da criatividade e do esforço de um grande número de artistas, há séculos este é o lugar mais importante de fé católica.

A visita à Basílica de São Pedro termina em uma emocionante peregrinação às grutas do Vaticano, bem abaixo do corredor central da igreja. Criadas a partir da elevação entre a nova e a velha basílica, o que restou de uma antiga necrópole romana, que ocupava a encosta da Colina do Vaticano, é o caminho que conduz à tumba do Príncipe dos Apóstolos, o local de descanso eterno de São Pedro, localizado sob o altar principal da basílica, que permaneceu inacessível e intocada por quase dois mil anos.

Uma modesta sepultura sobre a qual, cem anos após o martírio do apóstolo, foi construído um pequeno santuário funerário, o Troféu de Gaius, indicava aos primeiros cristãos a tumba de Pedro. A tumba, antes de Constantino, já era destino de milhares de devotos peregrinos.

No Vaticano, todos os caminhos levam à Praça de São Pedro, batizada pelo escritor francês Stendhal de “a arte da perfeição”. A brilhante arquitetura dos arcos dispõem-se radialmente em quatro fileiras de 284 colunas, cujo diâmetro aumenta de forma gradativa, conseguindo assim manter invariável a relação proporcional entre os espaços e as colunas, também nas fileiras externas. Graças a essa façanha, o expectador, ao acessar os discos de pórfiro em volta do obelisco central – um gigantesco monumento egípcio do século I d.C trazido para Roma no reinado do imperador Calígula – consegue ver os arcos como se estes fossem uma única fileira de colunas, um espetáculo da arquitetura barroca do eminente mestre italiano.

Visitar o centro mundial da fé católica, fundada sobre o legado de Pedro, transmitido para o apóstolo pelo próprio Jesus Cristo, é uma experiência única e emocionante que acontece no limiar entre o divino e o terreno, além de uma viagem no tempo, mostrando como um pequeno grupo de rebeldes transformou um movimento clandestino e ilegal na maior religião do planeta, e como contra todas as possibilidades, através dos séculos, o papado sobreviveu.

Nos últimos dois mil anos, apesar de todas as mudanças enfrentadas pelo mundo, a Igreja Católica Romana tem se mantido como um símbolo de estabilidade em uma sociedade em constante estado de ansiedade e ebulição, e papa, o líder religioso mais reconhecido na Terra, uma figura que transcende a própria religião católica.

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